
O pensamento negativo tende a ser uma resposta a momentos de medo, stress, ou mau humor, e como tal, o processo de reflexão nestes momentos gera respostas exageradas e negativas. Todos nós temos pensamentos indesejados, assustadores, e exagerados, mas em circunstâncias normais, estes são descartados rapidamente, por serem insignificantes. Mas se alguém estiver emocionalmente mais frágil no momento, os pensamentos podem não ser tão facilmente descartados.
Se pensar em certos problemas e os analisa de forma produtiva, não estamos perante um ciclo tóxico. Se pensar em certos problemas e não consegue sair do mesmo “lugar”, criamos um ciclo tóxico.
Quais são algumas das características de pensamentos negativos?
- Ocorrem repetitivamente durante o dia
- Costumam ser irracionais e ilógicos
- Surgem do nada, em horas inoportunas
- Assumem um controlo psicológico e roubam concentração
- Têm interpretações terríveis dos eventos, e fazem-nos sentir mal à medida que escalam
- Forçam-nos a reavaliar eventos do passado, com o intuito de incutir culpa e arrependimento
- Levam a constantes auto-críticas, com intuito de envergonhar e baixar a auto-estima
- Não resolvem nada, mas aumentam preocupações
- Podem obrigar a pessoa a isolar, evitando lugares, pessoas ou situações
Quais são os pensamentos negativos mais comuns?
- Medo de nos magoarmos ou outros
- Medo de adoecer
- Extrema necessidade de organização e limpeza
- Preocupações com pequenas coisas
- Focar excessivamente com coisas pequenas ou grandes
- Avaliações exageradas de situações, doenças, tragédias
O pensamento negativo pode estar associado a uma doença mental?
Em primeiro lugar devemos avaliar a intensidade e a frequência. Se interferirem com as nossas rotinas, personalidade e relações, devemos avaliar que não é uma situação passageira e que podem estar associados a outros distúrbios, como fobias, ansiedade, depressão, e TOC.
Como curamos estes pensamentos indesejados?
Não há cura. O ser humano procura problemas para resolver. É um estado normal de sobrevivência. Como tal, revê coisas do passado, prevê coisas para o futuro, e pontualmente surgem pensamentos indesejados. E assim vai continuar a ser…
Evitar ciclos viciosos é um caminho muito individual, muito particular para cada um. Os pensamentos negativos aparecem, e o mais importante é a forma como os enfrentamos. Nestas alturas é importante:
- A nossa autoestima e a forma como avaliamos os outros
- Os nossos valores e crenças
- A nossa educação
- Experiências pessoais
O que pode causar o ciclo dos pensamentos negativos?
Pode estar relacionado com:
- Traumas emocionais
- Ansiedade
- Insegurança
- Preocupação com resultados
- Demasiada responsabilidade
- Perfecionismo
O que pode ajudar?
- Gatilhos – Por vezes pode parecer que acontecem de forma aleatória, mas normalmente têm uma ligação ao seu meio ambiente; quer físico ou mental. Compreender se há eventos que desencadeiam os pensamentos negativos, pode ajudar a preparar situações mais desafiadoras.
- Interrogue – Não posso dizer isto o suficiente. Talvez o passo mais importante de todos. INTERROGUE. INTERROGUE. INTERROGUE os pensamentos. Interrogar os pensamentos negativos é uma forma de desafiar e organizar melhor o pensamento.
Questione:
- Se o pensamento é um facto? Representa uma verdade, é uma opinião, é uma memória de algo que já aconteceu?
- Existe alguma forma mais assertiva de analisar o pensamento?
- Este pensamento é útil de alguma forma?
- Este pensamento está a acontecer neste momento?
- Este pensamento vai acontecer amanhã? Que soluções praticas existem?
Quanto mais repetimos o pensamento, mais ele se torna credível. A ideia é criar duvida, sublinhar as características fracas e reduzir o seu impacto.
- Escreva – Anotar o que nos incomoda ajuda a organizar melhor as ideias, e é uma forma diferente de os processar, através da escrita.
- Planeie – Se o pensamento negativo está relacionado com um problema que precisa de resolver, crie um plano estratégico, passo-a-passo, e realista para resolver o assunto. Enquanto o foco está na solução, no que consegue controlar, o resto começa a ficar na reta-guarda.
- Mude de cenário – Se está na secretaria, vá beber uma água, se está em casa, vá fazer uma caminhada. Por vezes uma ligeira mudança interfere com o pensamento, porque nos obriga a ver outras coisas, conversar com outras pessoas, ou até admirar algo.
- Faça algo diferente – Estar ativo é um ótimo remédio. Algo que requer a nossa concentração ajuda a desviar do que nos provoca mal-estar.
- Contactar alguém – Se tem alguém de confiança, outras mentes são sempre uteis para ajudar a avaliar os nossos problemas, criando novas soluções ou perspetivas diferentes. Por vezes ao ouvir em voz alta o pensamento negativo, ajuda a interrogá-lo melhor. Assim como, é amparador quando sentimos apoio e compreensão.
- Terapia – É sempre uma escolha prioritária. Particularmente quando o ciclo vicioso já está presente, interferindo com as nossas rotinas, e possivelmente existindo outros distúrbios concomitantemente. O processo terapêutico fortalece o autoconhecimento, autoconfiança e oferece formas mais saudáveis para saber lidar com estes desafios.
Artigo escrito por Andreia Figueiredo, psicóloga.