
Em caso de mulheres que sofram esclerose múltipla, a fertilidade é posta em risco. Há maior risco de aborto e de prematuridade, bem como malformações fetais. Ainda, a gravidez aumenta a gravidade da doença. Concordou com tudo o que foi dito nesta frase? Não é a única, no entanto, nada disto é certo. Tudo isto são mitos que tendem a persistir, mesmo com os dados científicos que comprovam o contrário.
Contra isto, o certo é que a mulher com Esclerose Múltipla não tem por que adiar a vontade de aumentar a família. Assim garante Carolina Pires, neurologista no Centro Hospitalar do Oeste, Unidade de Torres Vedras. Foi com esta especialista que a Women’s Health falou para perceber o porquê de tais dúvidas e receios se manterem.
Certa de que persistem os mitos sobre a fertilidade na doença, a especialista refere que “não está provado que a esclerose diminua a fertilidade”. Pelo contrário, “os estudos clínicos e os registos de gravidezes de doentes com Esclerose Múltipla mostraram que, na verdade, existe uma diminuição da taxa de surtos durante a gravidez e que a gravidez não piora o prognóstico destas doentes a longo prazo”. Relativamente ao parto, acrescenta, “também é importante referir que a anestesia (geral ou epidural) não agrava a doença”.
Apesar deste cenário, que contrasta com aquilo em que mais se acredita, a neurologista atenta que, “poderá haver um aumento dos surtos no período pós-parto e, apesar de a amamentação ser encorajada, não é ainda claro se protege a mulher destes surtos”.
“Personalização do tratamento é a palavra de ordem”
Sem negar os especiais cuidados que tais mulheres carecem, aos olhos de Carolina Pires a solução está em ver cada caso como particular e ajustar os tratamentos e medicação a cada mulher. É que “apesar de não existir ainda cura para a Esclerose Múltipla, esta é uma doença com múltiplas opções terapêuticas, que devem ser personalizadas de acordo com as especificidades de cada doente, nomeadamente da mulher em idade fértil que deseja engravidar”.
A provar que a questão não é tão ambígua ou impossível quanto parece, a neurologista salienta a constante evolução desta área da medicina, focada nesta doença. “A cada dia temos novas informações e novas terapêuticas, algumas das quais poderão ser utilizadas mesmo na gravidez e amamentação. Outros fármacos, após a sua administração, poderão ter efeitos prolongados no tempo, podendo-se fazer ‘férias terapêuticas’ de modo a planear uma gravidez, diz a especialista.
É preciso falar sobre o tema
Em todas as suas consultas, Carolina Pires faz questão de falar sobre planeamento familiar logo na primeira consulta. “Falar de planeamento familiar é tão fundamental quanto discutir opções terapêuticas. Se a mulher desejar ter filhos, eu encorajo e apoio essa tomada de decisão, que não deve ser adiada. Tirando alguns casos excecionais, as mulheres com esclerose múltipla deverão ser encorajadas a ter filhos se assim o desejarem, devidamente acompanhadas pelo neurologista para os necessários ajustes terapêuticos”.
O caso é, neste sentido, simples, mesmo que a Esclerose Múltipla ainda não tenha cura: Há que garantir que as mulheres não deixam para segundo plano a vontade de constituir família. “A gravidez não agrava o prognóstico da doença”, garante a neurologista. “Na grande maioria dos casos consegue-se adaptar o tratamento da Esclerose Múltipla ao desejo de maternidade da mulher. Além disso, a mulher não terá interferência na fertilidade, no parto ou na saúde do bebé”, acrescenta.
Leia também:
Na gravidez, “o importante é não encontrar barreiras ao exercício físico”