
O jejum intermitente não é algo novo. É uma prática ancestral que segue diferentes formatos e que foi resgatada e popularizada recentemente como uma prática que pode trazer alguns benefícios para a nossa saúde. No entanto, se procurar por jejum intermitente na internet irá ver que algumas das informações que aparecem são contraditórias como, por exemplo, ingerir ou não líquidos durante o período de jejum, ser a dieta mais indicada para perder peso ou ser uma dieta que acelera o metabolismo. Será tudo verdade? Entre estas questões existem outras que procuramos ver respondidas junto de dois nutricionistas que fizeram o escrutínio das principais ideias (falsas ou não) associadas a este tipo de prática alimentar.
12 mitos sobre o jejum intermitente
- Só existe um tipo de intervalo de jejum específico.
Mito. Existem vários formatos de jejum, nomeadamente, “o que limita o número de horas em que se come; o que alterna dias a comer com dias sem comer; o que se está dois dias seguidos sem comer e o do tipo religioso em que se come apenas durante a noite”, diz-nos Rita Soares, nutricionista na Gastroclinic em Lisboa.
- Melhora a nossa concentração.
Mito. “Não existe qualquer evidência científica sólida de que a concentração possa ser influenciada pela adoção de um plano alimentar com jejum intermitente. Existe, no entanto, estudos que correlacionam a concentração, capacidades intelectuais e desempenho cognitivo com o consumo de hidratos de carbono complexos, o que nos transmite a necessidade de um pequeno-almoço variado e completo para melhorar a nossa performance no trabalho, na formação, etc.”, diz Miguel Godinho, nutricionista na Nutrialma em Lisboa.
- É a dieta mais eficaz para perder peso.
Mito. “Apesar de ser uma estratégia para auxiliar a perda de peso, sem a conjugação de uma alimentação que promova o emagrecimento, um sono adequado e exercício físico, esta prática pode não ser suficiente ou duradoura. A longo prazo é fundamental adotar uma dieta que seja focada na qualidade dos alimentos e que promova saúde, enquanto se cria um défice energético”, diz Rita Soares.
- Quem treina de manhã não pode fazer jejum intermitente.
Mito. “É possível fazer jejum intermitente mesmo treinando de manhã, no entanto é importante lembrar que nós precisamos de energia para treinar, o que significa que o nosso potencial físico nesses treinos não é igual. Devemos estar atentos ao excesso de fadiga e acrescento, consultar um nutricionista antes de o fazer”, explica Miguel Godinho.
- Não se pode ingerir líquidos durante o jejum.
Mito. “Pode beber líquidos durante o jejum desde que estes não contenham calorias, como a água, café e chá sem adição de açúcar”, afirma Rita Soares.
- É indicado para todos.
Mito. “Para a maior parte de nós, caso nos sintamos bem não há qualquer problema, contudo é desaconselhado em atletas com regimes de treino muito intensos, mulheres grávidas, diabéticos e pessoas com distúrbios alimentares”, diz Miguel Godinho.
- Renova as nossas células.
Verdadeiro. “O jejum pode mediar o processo de autofagia, através da sinalização que ocorre em resposta à depleção de nutrientes. Este processo resulta na degradação e reciclagem do conteúdo celular”, explica Rita Soares.
- Aumenta a massa muscular.
Mito. “Infelizmente, não podemos afirmar categoricamente que o jejum intermitente aumenta a massa muscular. Se assim fosse muitos atletas tinham neste tipo de alimentação uma arma valiosa. É preciso estruturar muito bem os nossos horários para não comprometer o desempenho físico. Certamente que treinar em jejum pode ser benéfico para um atleta, em momentos pontuais das suas épocas e planos de treino, sendo este ato comparável a treinar em altitude. Quer isto dizer que treinar em condições extremas, pontualmente, aumenta o nosso desempenho a médio longo prazo, mas perpetuar este estilo de alimentação em permanência pode não ser do maior interesse para o individuo”, afirma Miguel Godinho.
- O jejum intermitente acelera o metabolismo.
Mito. “Como os estudos são escassos em relação ao gasto energético, não se pode afirmar que haja um aumento da taxa metabólica. No entanto ocorre uma melhoria nos níveis de glucose e insulina que, por sua vez, beneficia o emagrecimento (especialmente para quem tenha resistência à insulina)”, explica Rita Soares.
- Podemos comer tudo o que nos apetece.
Mito. “A palavra de ordem na nossa alimentação deve ser: moderação! Todas as regras de alimentação saudável são aplicáveis a quem pratica jejum intermitente, sendo por este motivo desaconselhado o consumo de alguns alimentos maioritariamente ricos em açúcar, gordura (especialmente saturada) e sal”, diz Miguel Godinho.
- O período de sono também conta como jejum.
Verdadeiro. “O jejum que respeita mais a nossa fisiologia e ritmo circadiano é o que limita o consumo de alimentos durante o período da noite. Sendo bastante acessível fazer um jejum mínimo de 12h utilizando o período da noite sem comer”, afirma Rita Soares.
- A fase menstrual compromete o jejum.
Verdadeiro. “Existem questões difíceis de responder de forma binária, sendo este um excelente exemplo. No entanto, as variações hormonais que ocorrem durante a fase menstrual podem ter alguma influência na sensação de fome e saciedade, comprometendo assim o sucesso do jejum intermitente”, afirma Miguel Godinho.